quinta-feira, 17 de novembro de 2011

“EU ESTOURO”, DA CIA DO CAPRICHO, A MÚSICA MAIS ENGRAÇADA E FILOSÓFICA DE TODOS OS TEMPOS

A Cia do Capricho foi uma banda de arrocha que fez relativo sucesso na região tempos atrás. Em sua formação clássica ela trazia Moreno (principal compositor) Léo e JP. A banda hoje, infelizmente, não existe mais. Porém, antes de embarcarem no ostracismo, eles nos brindaram com a excelente música: “eu estouro” (baianamente falando, se pronuncia ‘eu estóro’).
Em “eu estouro” se narra a vida amorosa (sexual na verdade), de Wellington “Cara de Urso”. “Cara de Urso” vivia correndo atrás de garotas impossíveis de se “pegar”. Em determinado momento ele muda sua mentalidade e passa a “agarrar” quem vem pela frente.
A mudança de atitude (ou de paradigma – melhor inserir pelo menos uma palavra mais chique neste texto) de Wellington é soberbamente expressa na seguinte estrofe da música, que é narrada em primeira pessoa:
“Toda mulher merece ser amada, não importa cor, idade ou raça. Eu tenho um amigo (“Cara de Urso”) que é um absurdo, não deixa passar nada, “estoura” todo mundo. Eu perguntei “prá” ele como é que tem que ser, o tipo de mulher “prá” lhe satisfazer”
A resposta de Wellington é baseada na observação que o narrador faz da vida sexual/amorosa dele e é uma pérola de singeleza erótica que chega a superar até poetas do quilate de um Bocage:
“Pode ser branca, preta, gorda, magra ou alta; eu estouro, eu estouro. Gaga, velha, nova, anã, surda ou cambota; eu estouro, eu estouro. Com peito ou sem peito, bicuda, zarolha ou orelhuda, até doida: eu estouro.”
No fim das contas, Wellington “Cara de Urso” descobre que a felicidade está na simplicidade, em se viver traçando pequenas metas para, a partir daí, se chegar a algo maior.
Você ai, pobre e desiludido ibicaraiense, que acha que o mundo todo está contra você, espelhe-se em Wellington “Cara de Urso”; comece com um planejamento modesto, mas vá à luta.
E lembre-se: é no estourar de coisas pequenas que as grandes surgirão

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

CADÊ MEUS VOTOS? CADÊ MEUS VOTOS?



O folclore político é cheio de histórias engraçadas, inusitadas e pitorescas. Por vezes, tão fantasiosas, que beiram o caminho da improbabilidade, por outras; tão bem elaboradas, que beiram o caminho da verdade.  Enfim, fantasiosas ou verdadeiras, são dignas de registro para a posteridade.
Apenas para ilustrar, relatarei uma dessas inúmeras histórias que ouvi de gente de conduta ilibada, que ao contarem tais acontecimentos juram de pés juntos que é verdade, ou por terem presenciado o acontecido, ou por ouvirem de fontes fidedignas.  Eu, que acredito piamente na idoneidade dessas pessoas passo os acontecimentos adiante, como se verdadeiros foram.  Apesar de que a “verdade” nesse momento é o que menos importa e por isso, para evitar quaisquer constragimento, utilizarei  nome fictício para o protagonista do “causo” a seguir.
Dizem que em certa eleição em Ibicaraí, um Guarda Municipal, aqui vou identificá-lo como Alfredinho, resolveu submeter seu nome ao pleito eleitoral para uma vaga na Câmara Municipal de vereadores.  Tomou tal decisão, imbuído pelo clima de verdadeira estima e admiração que gozava perante a população Ibicaraiense.  Alfredinho, era muito conhecido na cidade e extremamente elogiado por sua conduta cordial e amistosa, apesar de fazer parte do “aparelho repressor” do estado.
Munido de uma inseparável caderneta saía pelas ruas da cidade abordando seus potenciais eleitores: - Fulano sou candidato a vereador, posso contar com seu voto?  Prontamente ouvia de seu interlocutor a tão esperada afirmativa: "Claro, Seu Alfredinho, pode contar com o meu voto e o de toda minha família".  La se ia Alfredinho anotar na sua caderneta a quantidade de votos da conhecida e eleitoral família.
Assim, esse ritual de abordagem, respostas afirmativas, e contabilidade registrada na caderneta, perdurou por quase todo período eleitoral.  Quando disse por “quase” todo período eleitoral, eu não me enganei, não.  È que o ponto pitoresco desse “causo” vem por conta desse “quase”. Explico.  Na época, segundo estimativas do (IPMM) – Instituto de Opinião Minha Mesma, para se eleger um vereador com uma certa folga, bastava para tanto, uns 250 ou 300 votos.  Só que na contabilidade infalível do entusiasmado Candidato, esse número já batia a casa dos 1.500 votos, uma verdadeira indecência, pensava Alfredinho. Se continuasse nessa proporção, até o final do período da campanha eleitoral, não restaria mais um eleitor que fosse para votar nos seus amigos opositores.  Movido pela compaixão de cidadão religioso, que sempre primou pela justiça, Alfredinho tomou a decisão de não mais pedir votos, pois, o que tinha conquistado, já era mais do que suficiente para suas pretensões. 
Convicto da decisão, Alfredinho, passou a andar pelas ruas de Ibicaraí, com a pompa de candidato eleito.  Agora quando era abordado por um possível eleitor, com a fama de “poca urna”, o quadro de abordagem se inverteu, e quando Alfredinho era assediado por mais um eleitor ávido para fazer parte da sua famosa caderneta, calmamente ele retirava da tiracolo marrom sua preciosa peça de contabilidade eleitoral e,  passando página por página abarrotadas de nomes, dizia tranquilamente ao futuro eleitor:  - “Meu filho, viu isso?  Já tenho voto demais, a moral e os bons costumes me dizem que devo passar seu voto adiante, por isso, vote em fulano, em sicrano... eles precisam mais do que eu”.  E calmamente, guardava seu estimado tesouro novamente na tiracolo, em meio a um suspiro sustentado pela forte sensação de dever cumprido, por tentar ajudar a eleger mais um futuro colega de legislativo.
Chegado o dia da eleição, Alfredinho, desfilava pelas ruas de Ibicaraí e ouvia da população, o brado uníssono:  "Já ganhou!  Já ganhou"!  Ao que respondia com um largo sorriso de satisfação e agradecimento.  Os mais entusiasmados já comentavam que Alfredinho seria o próximo prefeito da cidade, e quicá mais adiante, o primeiro deputado estadual de Ibicaraí.
Terminada a apuração, sai a relação de candidatos e quantidades de votos, e frente à relação lá estava Alfredinho, com o olhar perdido no tempo e teimando em não acreditar no que estava escrito naquele papel: ALFREDO LINHARES COSTA – 46 VOTOS.  Pensava quase sem pensar: “46 votos” (não era nem o total de votos da sua numerosa família).  Traído pela própria família, era demais para acreditar.  Dizem as prováveis testemunhas oculares do acontecido, que Alfredinho passou mais de um mês repetindo compulsivamente com o olhar perdido no espaço:  "Cadê meus votos"?
               Qualquer semelhança com fatos reais pode ser mera coincidência... ou não.
              
              José Wadson
              Filosófo pela UESC