terça-feira, 24 de abril de 2012

O RIO SALGADO É UM PROBLEMA DE SAÚDE

Por José Nilton Calazans
A discussão sobre os problemas ambientais e de saúde pública deve aumentar este ano nos municípios da região. Alguns fatos recentes, como a exibição nacional da precária destinação do lixo na região e a construção de uma barragem em Itabuna, estimulam a preocupação com os investimentos em obras que poderiam trazer mais qualidade de vida a essa população.

Como este é um ano eleitoral, a discussão do problema dificilmente vai se dar apenas em torno de questões técnicas, infelizmente. Quando a paixão política fala mais alto, deixa-se de ouvir e de compreender os fatos de interesse direto de quem convive com o problema, que são as pessoas, geralmente as mais pobres.

Vejamos o caso de Ibicaraí, que tem seu lado ruim, que deve ser resolvido, e seu lado bom, que deve ser comemorado e cuidado. Recentemente, os números do Censo 2010, do IBGE, mostraram que pelo menos em relação a acesso aos serviços de saneamento, a situação dos ibicaraienses podia ser considerada adequada. Ter saneamento básico é ter acesso a abastecimento de água por rede geral, a esgotamento sanitário por rede geral ou fossa séptica, além de ter o lixo coletado.

Segundo as respostas dadas pelos próprios moradores, Ibicaraí apareceu no Censo em situação melhor do que 90% dos municípios baianos, à frente até mesmo de Vitória da Conquista, Ilhéus e Feira de Santana. Apenas 5% das casas ibicaraienses não têm acesso ao básico, considerando que 6.956 domicílios recebem água encanada, 145 pegam água de poço ou nascente, 111 abastecem em rio, açude ou lago e 148 aproveitam água da chuva. Quanto ao esgotamento sanitário, 696 casas ibicaraienses despejam o esgoto no rio. E 812 não têm o lixo coletado.

O serviço local de abastecimento de água do município havia declarado em 2009 ao Ministério das Cidades que Ibicaraí dispunha de 9,4 mil ligações de água, distribuindo por 37 quilômetros de tubulação cerca de 1,5 milhão de metros cúbicos de água por ano.

Mas enquanto o abastecimento vai sendo solucionado, ainda temos de pensar em como resolver a destinação de resíduos. O esgoto, por exemplo, ainda precisa de solução para cerca de 700 casas que dão fundo para o Rio Salgado.

Esse problema é importante porque está diretamente relacionado com a saúde da população ribeirinha. Em 2003, Joana Faria dos Santos Valença, em um trabalho de mestrado pela Universidade Estadual Santa Cruz, mostrou que a poluição da água do Rio Salgado está adoecendo as pessoas que moram próximo a ele.

Desde o nascedouro, à medida que vai cruzando os povoados, diminui a qualidade da água do nosso rio, que sofre com o recebimento de dejetos das casas, dos curtumes, dos matadouros, além de chorume de lixões. O estudo da pesquisadora  da Uesc constatou que os índices de diarreia em Ibicaraí ainda são muito elevados e se encontram bem acima da média da região, que já não é baixa. Segundo o estudo, quanto mais próximo do rio maior a ocorrência de casos de diarreia.

A atenção às águas do Rio Salgado traz, inevitavelmente, uma melhoria significativa na saúde e na qualidade de vida da população. Como consequência, reduzem-se diretamente os gastos do poder público com saúde. Em 2011, 21 ibicaraienses foram internados por causa de doenças relacionadas com infecção intestinal, principalmente diarreia em idosos.

O plano diretor urbano de Ibicaraí, aprovado em 2006, já havia admitido a precariedade da qualidade da água oferecida à população, do sistema de esgotamento sanitário e do problema da proximidade do lixão em relação ao rio.

Agora, é necessário que a discussão se dê em torno de fatos, para que os investimentos sejam direcionados exatamente aos problemas mais urgentes. A politização da discussão, com troca de acusações e de responsabilidades, por outro lado, só adiaria  as soluções.


                                   
     Na foto acima fica claro o destino do esgoto residencial  de nosso município   
     Crédito da foto: PUBA
                                                                                      
      
         
 Lixão de Ibicaraí em 2010 - imagem que causou grande polêmica por mostrar os danos ambientais que o precário     depósito de lixo  municipal vem causando junto ao rio Salgado.    

 


  

   

segunda-feira, 16 de abril de 2012

HENRIQUE OLIVEIRA (HO) E O CINE ANA


Na década de oitenta, nós, crianças/estudantes, principalmente àqueles de baixa renda, íamos ao Cine Ana, o cinema local, duas vezes por ano: no dia do estudante e na semana em que se comemorava o dia da cidade. Ainda me lembro de alguns dos filmes que assistíamos nessa época: Ginkata - o Jogo da Morte, Menino do Rio, e um monte de Shaolins - e cito-os aqui não só por nostalgia, mas sim também porque sei que você aí, leitor de mais de trinta anos, também é meu contemporâneo nessas agradáveis lembranças.
Henrique Oliveira era o prefeito da época e o responsável pela entrada gratuita dos estudantes no cinema. Todos os anos, nessas datas, ele enviava para as escolas da cidade (estaduais e municipais) ingressos para serem distribuídos aos estudantes – que consistiam em imitações de cédulas da época com a efígie dele impressa nelas.
Nada era tão emocionante e prazeroso quanto aquelas longas horas que passávamos naquelas  filas gigantescas até podermos entrar e assistir a algum filme sentados naquelas cadeiras – eram de madeira, mas super confortáveis. Sair do cinema então era outra festa - ainda mais se o filme tivesse sido de caratê – era um tal de tentar reproduzir toscamente aqueles  golpes que não acabava mais – minha geração agradece repetindo o bordão: “Deus lhe pague HO”.
Nostalgias à parte, o Cine Ana hoje vive um presente inglório; quase ninguém o frequenta e volta e meia ele fecha as portas.  O ibicaraiense teima em culpar a prefeitura por isso – o que é um erro.
O cinema pertence à iniciativa privada (um particular) que mantém seu comércio de acordo com as regras do mercado (demanda, lucro, prejuízo). Muito embora o dono do cinema o tenha aberto com a louvável atitude de um verdadeiro mecenas, sem preocupação com lucro, um gestor municipal não pode jamais ser culpado se um certo negócio da iniciativa privada não está sendo rentável e corre o risco de falir. Porém...
O fato é que o Cine Ana ficou tão arraigado na memória coletiva do ibicaraiense que existe um sentimento de pertencimento público quanto a ele . É como se o cinema fosse um órgão público (da prefeitura, e por extensão nosso) e por isso carente da ajuda dela. Se formos esperar que os nossos cidadãos o freqüente voluntariamente ele certamente fechará as portas.
Eu outros textos que escrevi eu discuti a idéia da inexistência de movimentos culturais em nossa cidade – o que só nos emburrece ainda mais. Nesse contexto, não tem jeito; cabe a prefeitura comandar essa iniciativa. Uma boa idéia, se é que a prefeitura já não a teve e pôs em prática, seria cadastrar o município no Plano Nacional de Cultura (PNC) do governo federal – e absorver as verbas destinadas especificamente para iniciativas culturais que o plano oferece.
 A outra, exigiria que você, culto e consciente cidadão, tivesse boa vontade e presença de espírito suficientes para se unir e travar diálogos com nossos órgãos executivos e legislativos a respeito da inserção de uma efetiva política cultural na cidade – e que ajudem a salvar o cinema – vou logo adiantando: eu tenho duas idéias, ambas mirabolantes.
Até lá, vamos rezar para que o NOSSO Cine Ana não feche. E que consiga nesse meio tempo, ao menos duas vezes por ano, trazer um pouco de alegria e cultura ao rude cidadão ibicaraiense.