terça-feira, 26 de junho de 2012

LAURO ASSUNÇÃO E O PONTO DE ÔNIBUS DO CAJUEIRO


Por Uildo Batista

Lendo o texto A PRESA DE LAURO - nesse mesmo blog – acabei me  lembrando de um pitoresco caso que, segundo se dizia na época, ocorreu com nosso ex-prefeito, no segundo ano de seu mandato. 
Em certa manhã de segunda feira, Lauro visitava em Cajueiro, distrito da cidade, um velho amigo de campanha, Hamilton Andrade. Entre um papo e outro Hamilton Andrade, que era o administrador daquela localidade, pediu que o ilustre prefeito construísse um ponto de ônibus no distrito, pois os cidadãos dali esperavam achegada dos ônibus de maneira desconfortável; debaixo de sol crepitante ou sob chuvas torrenciais.
 Lauro, sempre solícito, aprovou o pedido do administrador distrital, porém considerou-o muito simplista e resolveu então rabiscar em uma folha de papel como seria o futuro ponto de ônibus. Iniciou desenhando uma pequena construção contendo os seguintes aparatos: uma casa circular, com térreo e primeiro andar, onde o acesso para o andar de cima seria feito por uma escada gira-mundo (dando uma volta completa na construção); a parte inferior (térreo) teria uma área de guichê para venda de passagens, com banheiro (feminino e masculino) e uma pequena sala de espera (meio vip). Na parte superior, um bar (drink self) onde os passageiros menos apressados poderiam se deliciar ou tomando um drinque ou saboreando algum petisco. Esse bar teria uma TV com sinal de parabólica acoplado a um DVD. Todos os assentos seriam laterais às paredes (e essas com largos vidros degradês) para que os clientes/passageiros pudessem ter uma visão do seu transporte. 
Assim que o prefeito encerrou seu desenho (vamos chamar de planta básica) o também simpático Hamilton Andrade falou sabiamente ao prefeito: “Lauro, meu amigo, você tem boas idéias, mas no ponto de ônibus que precisamos só basta um banco de cimento e uma cobertura de Eternit”. 
Essa e outras histórias são passíveis de veracidade, já que compõem o universo do folclore político local. Porém, caso pudesse ser comprovada, talvez esclarecesse o jeito Lauro Assunção de administrar e o que se passava em sua cabeça ao construir sua obra máxima, a famosa “Presa de Lauro”. 


EM CIDADES PEQUENAS O VOTO É DE CABRESTO, MAS QUEM DECIDE MESMO É O TERCEIRO ESTADO


Por Sérgio Gama

Há exatos 223 anos, a França mergulhou em uma sangrenta guerra civil. O motivo: a Assembléia Legislativa - instância máxima na elaboração de leis para a população – não passava de um conjunto de cartas marcadas para favorecer aos de famílias nobres.
Funcionava assim: os representantes do povo estavam divididos em três grupos, chamados de Estados (devido a determinados fatores, um individuo que nascesse no Estado menos favorecido, mesmo que conseguisse enriquecer, dificilmente conseguiria avançar para outro). Os dois primeiros Estados representavam os interesses das classes mais privilegiadas e o último, o terceiro, representava os interesses dos que nasceram sem os privilégios nobiliárquicos.
Os menos favorecidos nunca conseguiam aprovar alguma lei que os beneficiassem, isto porque o voto era por Estado e não por maioria. Mesmo havendo votações - supostamente democráticas - perdiam sempre por dois a um frustrando assim seus intentos de terem suas reivindicações aceitas. Tal política viciada acabou gerando protestos que se avolumaram e desembocaram na revolução que mudaria a forma do homem ocidental fazer política.
Muito embora a Revolução Francesa tenha conseguido repensar a dinâmica dos objetivos da representatividade os resquícios que a motivaram ainda sobrevivem – em especial, no Brasil, em cidades de pequeno porte.
Funciona assim: sem conseguir capitalizar formas de gerar emprego e renda, as prefeituras dessas cidades acabam se transformando nos maiores empregadores do enorme contingente ocioso (quase sempre contratados sem concurso público) que sabem que seu status de empregado só estará garantido enquanto o gestor que os contratou não perder as eleições.
Pegando como exemplo uma cidade de 12 mil eleitores, teremos, por alto, uns dez a quinze por cento de eleitores atrelados ao atual gestor. Inversamente a estes, temos aqueles que foram demitidos por ocasião da queda do gestor anterior, os quais, possivelmente, se igualam em números àqueles primeiros perfazendo aí, no mínimo, uns trinta por cento dos votos válidos (cerca de 3500) atrelados a algum cabresto.
Sobra-nos o Terceiro Estado – que decide realmente uma eleição e por isso o foco das energias dos políticos durante as campanhas - composto de uma amálgama de profissionais liberais, pequenos burgueses, estudantes, aposentados e, em maior número, pessoas mais humildes, que não tem nobreza ou, em uma linguagem mais vulgar, “panelinha” suficiente para penetrar nos dois primeiros grupos (uma parte delas estará sempre descontente com o político da situação).
Nesse contexto, o cidadão do Terceiro Estado terá duas oportunidades: determinará o candidato vencedor e (diferentemente dos franceses revolucionários) poderá até trafegar para outro Estado.
Você aí, cidadão consciente, ou você que passou anos estudando um monte de teorias sociopolíticas, deve estar se perguntando: mas, e as ideologias? E as propostas realmente coerentes?E a cidadania? Será que se efetivam nesse contexto?
Veja bem, a resposta é obvia; não estamos falando da França, estamos falando de um pequeno universo chamado “cidade pequena”. 

quinta-feira, 14 de junho de 2012

A PRESA DE LAURO

Por Sérgio Gama

Dia desses, passeando pelas ruas de Ibicaraí, ouvi um dialogo entre dois senhores que se diziam chateados com determinado político local que lhes prometera algo e sumira sem lhes dar o prometido. Um deles planejava dizer poucas e boas ao infeliz quando ele, ou qualquer outro político, viesse, segundo as palavras dele, “pedir voto na porta”. Já o amigo, disse que continuava “falando normal com o sujeito”, mas, “por trás, esculhambava a desgraça”.
Achei engraçada a conversa. Pareceu-me um versão meio mambembe da revolução silenciosa de Gramsci. Porém, a conversa me fez lembrar mesmo foi de Lauro Assunção.
Você aí, eleitor ibicaraiense de primeira viagem, talvez nunca tenha ouvido falar de Lauro assunção, ex-prefeito de nossa cidade. Inovador, ele foi o responsável pelas mudanças no modo de se fazer uma campanha política por aqui.
Muito embora os comícios atraíssem multidões (vinte anos atrás era permitido se utilizar músicos e bandas nesses eventos), Lauro assunção surpreendeu os políticos locais ao acrescentar novos ingredientes a sua campanha.
Simpático e educado, Lauro era incansável: ia de porta em porta distribuindo beijos e cheirinhos no rosto (em especial nos rostos das velhinhas, que trataram de criar o mito do “homem da barba cheirosa” – como ainda hoje ele é conhecido na cidade); agregou os jovens a sua campanha, intitulando-os de “rebeldes com causa”; deu inicio às grandes passeatas (utilizadas hoje como o termômetro que mede se um candidato está bem ou não de eleitores); escancarou as portas de sua mansão, que vivia lotada de pessoas/eleitores e nela criou sua melhor arma de campanha: a distribuição continua de café com pão (na época se dizia que o pão vinha recheado com ovo e esse seria o nome pelo qual seu modo de fazer política ficaria conhecido na cidade: pão com ovo).
A administração de Lauro assunção foi um desastre. Em seu governo quem mais sofreu foram os funcionários, cujos salários atrasavam em níveis estratosféricos, mergulhando a cidade em uma tristeza desmoralizadora.  
A obra mais marcante do governo de Lauro foi a construção de um muro lá no final do bairro Duque de Caxias. Não se sabe até hoje por que motivo se gastou, sabe se lá quanto, para se construir “uma coisa” que até hoje só serve para represar a água do rio e empestear o ar daquela localidade.
“Presa de Lauro”, no folclore local, virou sinônimo de obra faraônica, despropositada e sem sentido.
Diante de tanto descaso do poder público no gerenciamento da cidade, você, que não viveu o período, deve estar se perguntando o que fez os ibicaraienses que compunham a sociedade civil organizada daquela época...
Eu respondo: como bom ibicaraienses que eram – e talvez ainda sejam – estávam em casa, nas ruas e nas praças - planejando o que dizer ao próximo político que aparecesse...