Na década de oitenta, nós, crianças/estudantes,
principalmente àqueles de baixa renda, íamos ao Cine Ana, o cinema local, duas
vezes por ano: no dia do estudante e na semana em que se comemorava o dia da
cidade. Ainda me lembro de alguns dos filmes que assistíamos nessa época:
Ginkata - o Jogo da Morte, Menino do Rio, e um monte de Shaolins - e cito-os
aqui não só por nostalgia, mas sim também porque sei que você aí, leitor de
mais de trinta anos, também é meu contemporâneo nessas agradáveis lembranças.
Henrique Oliveira era o prefeito
da época e o responsável pela entrada gratuita dos estudantes no cinema. Todos os
anos, nessas datas, ele enviava para as escolas da cidade (estaduais e
municipais) ingressos para serem distribuídos aos estudantes – que consistiam
em imitações de cédulas da época com a efígie dele impressa nelas.
Nada era tão emocionante e prazeroso
quanto aquelas longas horas que passávamos naquelas filas gigantescas até podermos entrar e
assistir a algum filme sentados naquelas cadeiras – eram de madeira, mas super confortáveis.
Sair do cinema então era outra festa - ainda mais se o filme tivesse sido de
caratê – era um tal de tentar reproduzir toscamente aqueles golpes que não acabava mais – minha geração
agradece repetindo o bordão: “Deus lhe pague HO”.
Nostalgias à parte, o Cine Ana
hoje vive um presente inglório; quase ninguém o frequenta e volta e meia ele
fecha as portas. O ibicaraiense teima em
culpar a prefeitura por isso – o que é um erro.
O cinema pertence à iniciativa
privada (um particular) que mantém seu comércio de acordo com as regras do
mercado (demanda, lucro, prejuízo). Muito embora o dono do cinema o tenha
aberto com a louvável atitude de um verdadeiro mecenas, sem preocupação com
lucro, um gestor municipal não pode jamais ser culpado se um certo negócio da
iniciativa privada não está sendo rentável e corre o risco de falir. Porém...
O fato é que o Cine Ana ficou tão
arraigado na memória coletiva do ibicaraiense que existe um sentimento de pertencimento
público quanto a ele . É como se o cinema fosse um órgão público (da
prefeitura, e por extensão nosso) e por isso carente da ajuda dela. Se formos
esperar que os nossos cidadãos o freqüente voluntariamente ele certamente
fechará as portas.
Eu outros textos que escrevi eu
discuti a idéia da inexistência de movimentos culturais em nossa cidade – o que
só nos emburrece ainda mais. Nesse contexto, não tem jeito; cabe a prefeitura
comandar essa iniciativa. Uma boa idéia, se é que a prefeitura já não a teve e
pôs em prática, seria cadastrar o município no Plano Nacional de Cultura (PNC)
do governo federal – e absorver as verbas destinadas especificamente para
iniciativas culturais que o plano oferece.
A outra, exigiria que você, culto e consciente
cidadão, tivesse boa vontade e presença de espírito suficientes para se unir e
travar diálogos com nossos órgãos executivos e legislativos a respeito da inserção
de uma efetiva política cultural na cidade – e que ajudem a salvar o cinema –
vou logo adiantando: eu tenho duas idéias, ambas mirabolantes.
Até lá, vamos rezar para que o NOSSO
Cine Ana não feche. E que consiga nesse meio tempo, ao menos duas vezes por
ano, trazer um pouco de alegria e cultura ao rude cidadão ibicaraiense.
6 comentários:
Isso que é um blog!! parabéns
Parabéns pela iniciativa do blog e pelo texto que me trouxe à lembrança os docinhos vendidos na porta do CINE ANA. Mesmo não morando mais em Ibicaraí, sinto-me orgulhoso pela fato de nossa cidade possuir um cinema de excelente qualidade como esse. VIDA LONGA AO CINE ANA!!!
Amigo Sergio abri cinema em épocas de hoje é no mínimo uma falta de inteligencia,eu participei de tudo isso que vc escreveu ai,parabéns era isso mesmo,agra culpar o prefeito presente ou o futuro que vier é um ato de desconhecimento total,hoje a comodidade da tecnologia permite que no conforto de sua casa assisti o filme que deseja,onde no passado que o colega se refere não tinha isso,mais aproveito ao colega que faça uma matéria sobre os créditos consignados que todo funcionário tem direito adquerido no artigo 115 da lei 8.213 de 24 de julho de 1991,e que o nosso prefeito se cusa a liberar tais créditos,ai sim devemos culpa-los por essa falta de respeito com todos trabalhadores desse município,segundo ele o gestor esse mês,será liberados os tais créditos,no mais quero te dá meus parabéns pelo blog,e aguardar a matéria sugerida,quem sabe assim nosso Prefeito não sensibiliza e faz cumpri a LEI, já que lei foi feita para tal.Gostaria que o amigo postasse meu comentário já que fala a verdade não merece castigo.
Uma ótima matéria! Gostaria de complementá-la (neste comentário)efanatizando o sentimento de pertencimento desta institução por uma parcela da população ibicaraiense, ávida por opçõpes de lazer e desenvolvimento cultural, que avalizou uma idéia de um empresário local que entende os mecanismos de mercado, organizando 100 pessoas para comprometer-se na compra prévia de ingressos garantindo o atual funcionamento do CINE ANA. Claro que esta iniciativa popular só veio complementar o senso de responsabilidade social do Proprietário do estabelecimento engrandecendo, ainda mais, o nosso município, não somente nas opções, mais sim como sociedade consciente.
Países de 1 primeiro mundo não precisam de iniciativa do estado para que o mesmo continue estável ou crescendo. Já os de terceiro mundo precisa além da iniciativa privada o PAC (projeto de aceleração do crescimento) ou seja, que o governo invista. O mesmo vale para países em crescimento (brasil) vs. cidades como ibicaraí e outras que não conseguem (por diversos motivos) acompanhar tal crescimento, cabendo assim ao bom senso da iniciativa pública (municipal), ajudar essa investimento a continuar funcionando em vista que nossa cidade não dispõe de opções. Quando falarmos em educação e cultura esqueçam as regras de oferta e demanda, esqueça regras de gastos e prejuízos e pensem somente na palavra INVESTIMENTO A LONGO PRAZO. Proponho a vocês um referendo: vcs preferem que a administração publica INVISTA 2.000,00 R$ na folha de pagamento de 3 funcionários do cinema (pipoqueiro, bilheteiro e projecionista) ou 12.000,00 R$ sendo, 2.000,00 R$ cada um dos seis marajás para ficarem nos bares falando bem da gestão?
Bonita essa nova foto do blog. Olhando assim, a cidade até lembra um pouco a Millenium Falcon.
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