quinta-feira, 14 de junho de 2012

A PRESA DE LAURO

Por Sérgio Gama

Dia desses, passeando pelas ruas de Ibicaraí, ouvi um dialogo entre dois senhores que se diziam chateados com determinado político local que lhes prometera algo e sumira sem lhes dar o prometido. Um deles planejava dizer poucas e boas ao infeliz quando ele, ou qualquer outro político, viesse, segundo as palavras dele, “pedir voto na porta”. Já o amigo, disse que continuava “falando normal com o sujeito”, mas, “por trás, esculhambava a desgraça”.
Achei engraçada a conversa. Pareceu-me um versão meio mambembe da revolução silenciosa de Gramsci. Porém, a conversa me fez lembrar mesmo foi de Lauro Assunção.
Você aí, eleitor ibicaraiense de primeira viagem, talvez nunca tenha ouvido falar de Lauro assunção, ex-prefeito de nossa cidade. Inovador, ele foi o responsável pelas mudanças no modo de se fazer uma campanha política por aqui.
Muito embora os comícios atraíssem multidões (vinte anos atrás era permitido se utilizar músicos e bandas nesses eventos), Lauro assunção surpreendeu os políticos locais ao acrescentar novos ingredientes a sua campanha.
Simpático e educado, Lauro era incansável: ia de porta em porta distribuindo beijos e cheirinhos no rosto (em especial nos rostos das velhinhas, que trataram de criar o mito do “homem da barba cheirosa” – como ainda hoje ele é conhecido na cidade); agregou os jovens a sua campanha, intitulando-os de “rebeldes com causa”; deu inicio às grandes passeatas (utilizadas hoje como o termômetro que mede se um candidato está bem ou não de eleitores); escancarou as portas de sua mansão, que vivia lotada de pessoas/eleitores e nela criou sua melhor arma de campanha: a distribuição continua de café com pão (na época se dizia que o pão vinha recheado com ovo e esse seria o nome pelo qual seu modo de fazer política ficaria conhecido na cidade: pão com ovo).
A administração de Lauro assunção foi um desastre. Em seu governo quem mais sofreu foram os funcionários, cujos salários atrasavam em níveis estratosféricos, mergulhando a cidade em uma tristeza desmoralizadora.  
A obra mais marcante do governo de Lauro foi a construção de um muro lá no final do bairro Duque de Caxias. Não se sabe até hoje por que motivo se gastou, sabe se lá quanto, para se construir “uma coisa” que até hoje só serve para represar a água do rio e empestear o ar daquela localidade.
“Presa de Lauro”, no folclore local, virou sinônimo de obra faraônica, despropositada e sem sentido.
Diante de tanto descaso do poder público no gerenciamento da cidade, você, que não viveu o período, deve estar se perguntando o que fez os ibicaraienses que compunham a sociedade civil organizada daquela época...
Eu respondo: como bom ibicaraienses que eram – e talvez ainda sejam – estávam em casa, nas ruas e nas praças - planejando o que dizer ao próximo político que aparecesse...


9 comentários:

Anônimo disse...

Excelente texto, que relembra uma campanha eleitoral histórica e uma administração problemática.

A maior complicação de Lauro foi quando ele recebeu 75 mil reais em 1996 para reformar escolas municipais. Sua administração induziu o governo federal a depositar o dinheiro numa conta bancária errada: em vez de cair na conta da educação o dinheiro foi parar numa conta da saúde. No mesmo dia do depósito, às vésperas do Natal de 1996, o dinheiro foi sacado de uma vez só, quando deveria ser retirado segundo o cronograma das obras, que ainda seriam feitas. Dois anos depois, uma auditoria do Tribunal de Contas examinou fotografias das escolas e concluiu que as obras não tinham sido feitas.
Pior: as escolas estavam degradadas.

Em sua defesa, Lauro alegou que havia perseguição política tanto de vereadores de oposição quanto de Henrique Oliveira, que seria prefeito em um mandato seguinte. E recorreu no processo, mostrando que as obras foram de fato feitas e que as fotografias, por serem antigas, não provavam a não execução das obras.

José Nilton Calazans

A ágora ibicaraiense disse...

Calazans como sempre, nos brinda com acréscimos de informações valiosissimas em um universo do "disse me disse" das cidades pequenas

Anônimo disse...
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Soldier disse...

Fácil também recordar da chuva de panfletos e santinhos. Com o helicóptero em voos rasantes pela cidade. Dizem que tinha dinheito misturado aos papéis.

No mais, me recordo que a famosa presa foi criada em um daqueles verões de longa estiagem e consequentes crises por falta d'água. A intenção do prefeito era: minimizar tais transtornos. Muita gente ali tomava banho, lavava roupas etc.

A ágora ibicaraiense disse...

Pior que me esqueci do bendito avião, ícone máximo daquela campanha memorável

Anônimo disse...

Fica verdadeiramente impossível responder a todas as distorções, exageros e, muitas vezes, xingamentos que, vez por outra, são arremessados em minha direção. Todavia, diante do texto acima, devo lembrar que fiz a administração que me foi possível fazer à época, com todos os acertos e desacertos próprios de um ser humano. Tenho consciência de que não agradei a todos, bem como já pedi desculpas pelos eventuais desacertos daquela jornada, ainda que me reste a consciência de que fiz em Ibicaraí algumas realizações positivas para os públicos a que foram destinadas.
Ao deixar Ibicaraí, em 1968, aos 18 anos de idade, para tentar a vida em Salvador, sem grandes estudos e depois uma infância e de uma adolescência de muitas dificuldades materiais e pessoais, sempre alimentei o sonho de voltar um dia e ser prefeito de minha querida cidade (município). Ninguém em meu lugar, depois de muito esforço para adquirir as condições objetivas, viria para esse desiderato com a intenção de falhar com os seus conterrâneos. Comigo não foi diferente. Infelizmente, após dois anos de absoluto sucesso na Administração, com obras e ações que enchiam os olhos das pessoas, veio a implantação do Plano Real, que, apesar de seus inúmeros benefícios, impôs muitas dificuldades às prefeituras de um modo geral, quebrando-as na época em seus fluxos financeiros. Após esse advento, enfrentei os dois últimos anos de muitas dificuldades, inclusive abandonando a obra que realizava no Bairro Duque de Caxias, a qual agora tomo conhecimento de que ficou batizada como a “Presa do Lauro”, num claro intuito pejorativo.
Tenho consciência de que tentei acertar. E é com essa convicção que me permito dizer, com muito orgulho, que, durante os quatro anos em que estive à frente da Prefeitura de Ibicaraí, nunca tive uma conta desaprovada (inclusive o convênio acima referido). Aliás, foi com essa seriedade que me impus como administrador público e privado nos cargos que ocupei, não só o de prefeito de Ibicaraí, como de igual modo na condição de gerente do Banco do Estado do Rio de Janeiro, diretor do Baneb – Banco do Estado da Bahia, secretário de Estado do Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia, reitor da Universidade Virtual do Maranhão, secretário de Estado de Ciência e Tecnologia do Estado Maranhão, para citar apenas órgãos e instituições estatais.
Com essas singelas explicações, agradeço a acolhida que sempre me dispensam os amigos que aí cultivei.
Quanto ao convênio trazido à baila pelo ilustre Sr José Nilton Calazans, pediria a ele que fosse fundo na análise do processo e trouxesse a público as provas e argumento contra e a favor da aprovação, que, ao final, aconteceu. Apesar de não desconhecer a seriedade do jornalista Calazans – de quem sou leitor assíduo – os fatos narrados em tão pequeno resumo deixaram a impressão de improbidade, o que absolutamente não foi caso. Como sei que ele é uma pessoa que muito pugna a justiça, vou lhe encaminhar uma cópia do processo.

Lauro Andrade Assunção

Anônimo disse...

Ao prof. Sérgio Gama
MD Editor do Blog Ágora Ibicaraiense
Prezado Senhor
Somente agora tomo conhecimento do Ágora Ibicaraiense e da crônica “A Presa do Lauro”. Apesar de o texto estar muito bem escrito, algumas passagens e considerações não refletem verdadeiramente os fatos ocorridos, pelo menos em minha ótica, claro!
Respeitando o seu direito de escrever o que melhor lhe parece, bem como o papel que esse espaço desempenha nas atividades noticiosas de nossa cidade, quero lhe externar o quanto lamento ter perdido a guerra da informação no momento seguinte ao término de minha Administração, pois precisei me ausentar da cidade e não pude estar aí para defender ou mesmo ressaltar os feitos de minha gestão. O azar foi meu!
No mais, agora que descobri esse canal de notícias e reflexões, estarei acompanhando as publicações em tempo mais real.
Cordiais saudações
Lauro Assunção

Anônimo disse...

Prezado Prof. Sérgio Gama
Caso seja possível, gostaria que os comentários que fiz fossem publicados com o mesmo destaque das crônicas a que se referem e com a sua gentil edição de forma.
De já, manifesto meu agradecimento pela sua atenção.

Cordialmente,

Lauro Assunção

A ágora ibicaraiense disse...

O Cronicas Ibicaraiense agradece as considerações de Lauro Assunção - ilustre personagem da política ibicaraiense- bem como sua polidez e fineza nas respostas.
Devido ao interesse coletivo do ibicaraiense sobre esse texto, que por vezes nos procuram para acrescentar ou sugerir mais informações a ele, sua resposta será passada para a pagina inicial, em forma de texto, para melhor apreciação dos leitores desse blog