Por Sérgio Gama
Há exatos 223 anos, a França mergulhou em uma
sangrenta guerra civil. O motivo: a Assembléia Legislativa - instância máxima
na elaboração de leis para a população – não passava de um conjunto de cartas
marcadas para favorecer aos de famílias nobres.
Funcionava assim: os representantes do povo
estavam divididos em três grupos, chamados de Estados (devido a determinados
fatores, um individuo que nascesse no Estado menos favorecido, mesmo que
conseguisse enriquecer, dificilmente conseguiria avançar para outro). Os dois
primeiros Estados representavam os interesses das classes mais privilegiadas e
o último, o terceiro, representava os interesses dos que nasceram sem os
privilégios nobiliárquicos.
Os menos favorecidos nunca conseguiam aprovar
alguma lei que os beneficiassem, isto porque o voto era por Estado e não por
maioria. Mesmo havendo votações - supostamente democráticas - perdiam sempre
por dois a um frustrando assim seus intentos de terem suas reivindicações
aceitas. Tal política viciada acabou gerando protestos que se avolumaram e
desembocaram na revolução que mudaria a forma do homem ocidental fazer
política.
Muito embora a Revolução Francesa tenha conseguido
repensar a dinâmica dos objetivos da representatividade os resquícios que a
motivaram ainda sobrevivem – em especial, no Brasil, em cidades de pequeno
porte.
Funciona assim: sem conseguir capitalizar formas de
gerar emprego e renda, as prefeituras dessas cidades acabam se transformando
nos maiores empregadores do enorme contingente ocioso (quase sempre contratados
sem concurso público) que sabem que seu status de empregado só estará garantido
enquanto o gestor que os contratou não perder as eleições.
Pegando como exemplo uma cidade de 12 mil
eleitores, teremos, por alto, uns dez a quinze por cento de eleitores atrelados
ao atual gestor. Inversamente a estes, temos aqueles que foram demitidos por
ocasião da queda do gestor anterior, os quais, possivelmente, se igualam em
números àqueles primeiros perfazendo aí, no mínimo, uns trinta por cento dos
votos válidos (cerca de 3500) atrelados a algum cabresto.
Sobra-nos o Terceiro Estado – que decide realmente
uma eleição e por isso o foco das energias dos políticos durante as campanhas -
composto de uma amálgama de profissionais liberais, pequenos burgueses,
estudantes, aposentados e, em maior número, pessoas mais humildes, que não tem nobreza
ou, em uma linguagem mais vulgar, “panelinha” suficiente para penetrar nos dois
primeiros grupos (uma parte delas estará sempre descontente com o político da
situação).
Nesse contexto, o cidadão do Terceiro Estado terá
duas oportunidades: determinará o candidato vencedor e (diferentemente dos franceses
revolucionários) poderá até trafegar para outro Estado.
Você aí, cidadão consciente, ou você que passou
anos estudando um monte de teorias sociopolíticas, deve estar se perguntando:
mas, e as ideologias? E as propostas realmente coerentes?E a cidadania? Será que
se efetivam nesse contexto?
Veja bem, a resposta é obvia; não estamos falando
da França, estamos falando de um pequeno universo chamado “cidade pequena”.
Um comentário:
Ótima redação. O problema é pensar no terceiro estado em uma cidade como a nossa. Se tratando como ibicaraí eu entendo primeiro estado: prefeito e vereadores; Segundo estado: a roda que faz a política girar (não importando para que lado essa roda gire) os fogueteiros, blogueiros, baderneiros de plantão e a falsa elite que diz atrair votos; Terceiro estado: a maioria que de fato elege e não tem consciência que são os que fazem diferença, mas, ficam com medo de "perder o voto" ou o bolsa família.
Postar um comentário