terça-feira, 26 de junho de 2012

EM CIDADES PEQUENAS O VOTO É DE CABRESTO, MAS QUEM DECIDE MESMO É O TERCEIRO ESTADO


Por Sérgio Gama

Há exatos 223 anos, a França mergulhou em uma sangrenta guerra civil. O motivo: a Assembléia Legislativa - instância máxima na elaboração de leis para a população – não passava de um conjunto de cartas marcadas para favorecer aos de famílias nobres.
Funcionava assim: os representantes do povo estavam divididos em três grupos, chamados de Estados (devido a determinados fatores, um individuo que nascesse no Estado menos favorecido, mesmo que conseguisse enriquecer, dificilmente conseguiria avançar para outro). Os dois primeiros Estados representavam os interesses das classes mais privilegiadas e o último, o terceiro, representava os interesses dos que nasceram sem os privilégios nobiliárquicos.
Os menos favorecidos nunca conseguiam aprovar alguma lei que os beneficiassem, isto porque o voto era por Estado e não por maioria. Mesmo havendo votações - supostamente democráticas - perdiam sempre por dois a um frustrando assim seus intentos de terem suas reivindicações aceitas. Tal política viciada acabou gerando protestos que se avolumaram e desembocaram na revolução que mudaria a forma do homem ocidental fazer política.
Muito embora a Revolução Francesa tenha conseguido repensar a dinâmica dos objetivos da representatividade os resquícios que a motivaram ainda sobrevivem – em especial, no Brasil, em cidades de pequeno porte.
Funciona assim: sem conseguir capitalizar formas de gerar emprego e renda, as prefeituras dessas cidades acabam se transformando nos maiores empregadores do enorme contingente ocioso (quase sempre contratados sem concurso público) que sabem que seu status de empregado só estará garantido enquanto o gestor que os contratou não perder as eleições.
Pegando como exemplo uma cidade de 12 mil eleitores, teremos, por alto, uns dez a quinze por cento de eleitores atrelados ao atual gestor. Inversamente a estes, temos aqueles que foram demitidos por ocasião da queda do gestor anterior, os quais, possivelmente, se igualam em números àqueles primeiros perfazendo aí, no mínimo, uns trinta por cento dos votos válidos (cerca de 3500) atrelados a algum cabresto.
Sobra-nos o Terceiro Estado – que decide realmente uma eleição e por isso o foco das energias dos políticos durante as campanhas - composto de uma amálgama de profissionais liberais, pequenos burgueses, estudantes, aposentados e, em maior número, pessoas mais humildes, que não tem nobreza ou, em uma linguagem mais vulgar, “panelinha” suficiente para penetrar nos dois primeiros grupos (uma parte delas estará sempre descontente com o político da situação).
Nesse contexto, o cidadão do Terceiro Estado terá duas oportunidades: determinará o candidato vencedor e (diferentemente dos franceses revolucionários) poderá até trafegar para outro Estado.
Você aí, cidadão consciente, ou você que passou anos estudando um monte de teorias sociopolíticas, deve estar se perguntando: mas, e as ideologias? E as propostas realmente coerentes?E a cidadania? Será que se efetivam nesse contexto?
Veja bem, a resposta é obvia; não estamos falando da França, estamos falando de um pequeno universo chamado “cidade pequena”. 

Um comentário:

odemir silva céo disse...

Ótima redação. O problema é pensar no terceiro estado em uma cidade como a nossa. Se tratando como ibicaraí eu entendo primeiro estado: prefeito e vereadores; Segundo estado: a roda que faz a política girar (não importando para que lado essa roda gire) os fogueteiros, blogueiros, baderneiros de plantão e a falsa elite que diz atrair votos; Terceiro estado: a maioria que de fato elege e não tem consciência que são os que fazem diferença, mas, ficam com medo de "perder o voto" ou o bolsa família.