quinta-feira, 5 de julho de 2012

CHEGA DE GUERRA NA POLÍTICA DE IBICARAÍ


Por José Nilton Calazans

A política em Ibicaraí cabe direitinho no modo de fazer política no interior do Brasil, mas com algumas variáveis muito particulares. E a maior parte dessas particularidades surgiu na campanha eleitoral de 1992, quando os candidatos mais populares eram Baby Oliveira e Lauro Assunção.

Foi uma campanha muito concorrida, disputada no corpo a corpo. O grupo de Baby era o mais apaixonado, na época com o apoio de Tucano. Os partidários de Lauro, também bastante esforçados, pareciam reagir mais às ações do grupo adversário do que seguir a calma, a elegância e a educação características de seu candidato.

A eleição daquele ano foi tão polêmica e disputada que dividiu a cidade. Houve até guerra de trios elétricos. Esse fogo nos corações e almas de 1992 impôs consequências para a administração de Lauro, que foi o vencedor, e para as eleições seguintes. Os reflexos daquela campanha estão aí até hoje e ajudam a explicar o clima de Fla-Flu que se renova a cada eleição.

A cidade dividida em torno de dois candidatos não era novidade em 1992. Na eleição anterior, por exemplo, Landulfo Alves e Lula Sampaio também agitaram o município. O comício de Landulfo na praça da Igreja e o de Lula na praça Henrique Sampaio foram absolutamente marcantes. Mas havia bem menos guerra, bem menos antagonismo em 1988.

O envolvimento político da população faz bem para o município, porque traz a fiscalização do poder para o dia a dia do cidadão. Mas por aqui o exagero foi traduzido em cegueira, porque se defende com paixão os erros do seu candidato e ataca-se com ardor os acertos do candidato adversário, o que impede a síntese e a compreensão.

A administração de Lauro não foi ruim, muito pelo contrário, estava amparada por configurações políticas favoráveis, como explicou o advogado Valdivan Barros dos Santos. Mas enfrentou dificuldades e pressão, certamente por causa do clima político difícil originado na campanha. Além disso, era uma época em que a economia do país igualmente não ajudava em nada, como o próprio Lauro também explicou.

Mas a maior dificuldade da administração de Lauro, na minha opinião, surgiu bem depois do mandato, quando foi surpreendido com a acusação de que teria agido de maneira irresponsável no uso de recursos para a reforma de 29 escolas. Mas ele conseguiu reverter o processo, mostrar idoneidade e ter suas explicações aceitas judicialmente em 2005, quase dez anos depois do fim do mandato.

O ano de 1996, o último da administração de Lauro, também ficou marcado pela polêmica na apuração da eleição, em que Henrique Oliveira e Astor Mauro eram os principais candidatos. Eu lembro-me claramente de Yonildo Guedes entrar, às 20 horas, com um boletim na Rádio Jornal de Itabuna anunciando que a luz teria se apagado durante a apuração e que uma confusão foi instalada. Em 1996 desdobravam-se os reflexos do acirramento da campanha de 1992.

Astor foi declarado eleito mas Henrique Oliveira, diante do episódio ocorrido na contagem, recorreu. Então o município viveu uma cansativa guerra, tanto nos tribunais quanto nas ruas da cidade. Quantas vezes vi cada um dos dois saindo às ruas e serem seguidos por uma pequena multidão de apoiadores que aplaudiam e por críticos que vaiavam.

Na primeira edição de 1999, a revista Veja usou esse caso de Ibicaraí para criticar a lentidão da justiça brasileira. “Há duas semanas, o Tribunal Eleitoral da Bahia afinal decidiu que o prefeito de Ibicaraí é José Henrique Moraes de Oliveira, do PFL, e não Astor José Mauro Ribeiro, do PL, que fora empossado. José Henrique tinha ficado em segundo lugar, mas na recontagem teve 4 votos mais do que Astor José. O tribunal demorou dois anos para fazer valer a nova conta de 12.304 votos”, escreveu o colunista Flávio Pinheiro, na Veja.

Esses ânimos acirrados, que não fazem bem à cidade, agora compõem o DNA da política de Ibicaraí e ajudam a explicar a reação quase sempre desproporcional em relação a discussões de problemas antigos ou atuais. As disputas eleitorais, que parecem guerra, descambam quase sempre para as ofensas pessoais. E o jornalismo na cidade fica atado, porque qualquer opinião ou debate acende os brios de todos os lados. Desproporcionalmente.

Faz muito bem para a cidade uma campanha política com bastante envolvimento da população, não somente dos grupos interessados. E faz ainda melhor se a campanha for pautada pela disputa de propostas e discussão de problemas em vez de xingamentos, acusações pessoais e reação imponderada ao noticiário verdadeiro e à crítica legítima.

 
P.S. Que falta faz na política de Ibicaraí hoje a figura de um Raimundo Cordeiro, prefeito na década de 70, e sua música de campanha. Era uma marchinha famosa na voz de Dalva de Oliveira, Bandeira Branca. Um pedido de paz era o jingle de Cordeiro.

Bandeira branca, amor
Não posso mais.
Pela saudade,
Que me invade eu peço paz.
Bandeira branca, amor
Não posso mais.
Pela saudade
Que me invade eu peço paz.
Saudade, mal de amor, de amor
Saudade, dor que dói demais
Vem, meu amor
Bandeira branca, eu peço paz.

3 comentários:

Anônimo disse...

enquanto os´politicos estão em guerra tou orando pedindo a DEUS QUE MINHA VERIADORA GANHE NA PAZ DO SENHOR JEUS CLICIA GUERREIRA 2012 VEM COM TUDOOOOO

clelia disse...

José Nilton Calazans,
Saudades do nobre político Cordeiro, naquela época , lembro-me bem meu coração palpitava de paixão pela política e ainda não votava, mas participei ativamente com grupos coordenados e com vestimentas organizadas e retratando o país.
"Bandeira branca, eu peço paz."

Anônimo disse...

quero deixa a qui um beijão a drª monalisa tavares é a familia vieira